Eu não sei explicar muito bem, mas desde que me conheço por gente a tristeza sempre habitou minha casa. Ela é uma visita conhecida e esperada. Tem seu lugar na mesa e sempre ganha um chá quente com biscoitos quando aparece. Ás vezes sou eu mesma que vou até sua casa visitá-la, e por equiparação, sou recebida da mesma forma acolhedora. Ela sabe que eu prefiro café e chocolate, então assim ela me serve e me escuta. Em meio a choros, desabafos e algumas risadas (sim, acredite, a tristeza também ri), geralmente saímos dos nossos encontros mais leves e melhores do que entramos.
Acho graça quando ela me conta que é onipresente! Visita todos os lares e todos os corpos, e não faz distinção de gênero, idade, classe social, grau de escolaridade, cor ou raça. Ela simplesmente existe, sabe seu endereço e vai te visitar com uma certa frequência na sua vida. Quer você queira, quer não.
Ela me conta que tem dias que ela chega como uma perturbação silenciosa. Caso a pessoa esteja distraída mal percebe sua presença, e quando dá por si, já está sentada à mesa em sua companhia colocando pra fora tudo aquilo que lhe aflige, de um jeito doce e suave. Em outros dias ela chega arrombando a porta, ela precisa entrar mesmo que você não permita. Ela sabe que sua casa está uma bagunça e se não for ela vir e organizar você não vai sair deste lugar.
“Todos preferem a alegria” alega a tristeza, sem nem um pingo de preocupação ou dor, ela está apenas me apresentando os fatos, e complementa: “Não sei se você já reparou, mas a alegria é uma visita linda, divertida, elegante, só que ela não arruma a casa, ela usufrui da organização que eu trouxe. A alegria aproveita, canta, tira selfies, se diverte, dança e faz a festa, mas quando a casa tá ficando uma bagunça de novo, ela me chama para dar jeito nas coisas. A alegria é uma ótima companhia, mas tem coisas que não é do escopo dela fazer.”
Eu tenho um apreço pela tristeza, ela não é tão valorizada como deveria. Vira e mexe eu conto por aí: “olha a tristeza tá aqui em casa passando uma temporada” e o que recebo são olhares preocupados e sugestões “se cuida, viu?”, “espero que você melhore”. Pobre tristeza, eu entendo o quanto ela se sente desvalorizada e julgada.
Agradeço que ainda existem pessoas que acreditam no poder que a tristeza traz para nossas vidas e ainda escrevem sobre isso para passar a mensagem pra frente. Como é o caso do livro A arte de ser leve, da Leila Ferreira - que inclusive caiu no meu colo, há uns 6 anos atrás, em uma dessas visitas da tristeza -, no qual a autora entrevista diversas pessoas propondo uma reflexão daquilo que ela acredita: “Viver foi, é e será sempre difícil, então como deixar essa caminhada mais leve?”. Trago aqui o trecho de um dos capítulos que fala justamente sobre a obsessão pela felicidade e de como isso está aniquilando a tristeza de nossas vidas:
“Cabelos felizes: era o título da matéria especial (um guia completo para seus cabelos) anunciada com destaque na capa de uma revista feminina. Li o título rapidamente, ao passar por uma banca de jornais, e fui embora pensando no que seriam cabelos felizes. Cabelos com autoestima, talvez? Psicanalisados? Lavados com fluoxetina? Quem sabe cabelos que aprenderam o duro caminho do desapego ou que decidiram rever seus valores depois de uma viagem à Índia ou ao Nepal?
Não é fácil viver em um mundo em que até os cabelos são obrigados a ser felizes. E a gente começa a se perguntar: qual é o lugar da tristeza? Podemos - ainda - nos sentir tristes? Não é o que acredita Eric Wilson, crítico implacável do que chama de ‘obsessão pela felicidade’ na sociedade americana - uma sociedade que reconhecidamente nos influencia. Em seu livro Against Happiness (Contra a Felicidade), ele afirma que as pessoas estão aniquilando a melancolia e expurgando a tristeza de suas vidas. Wilson se refere aos sorrisos inóculos e ao contentamento desesperado que fazem parte do cotidiano de uma sociedade que se recusa a aceitar os estados de espírito mais sombrios.
Não existe alegria sem tristeza, alega Eric Wilson. A vida é feita de oposições, e negar isso é negar a realidade. Só admitindo e vivendo momentos melancólicos é que seremos capazes de viver com profundidade momentos de alegria. Ela lamenta que as expressões de tristeza sejam vistas como demonstrações de fraqueza. Ninguém nos ‘deixa’ ficar tristes. Temos de reagir, sorrir, fingir que estamos alegres. E é justamente a melancolia, admite Wilson, que mais nos conecta com nós mesmos. Quando estamos profundamente tristes ou angustiados, pessoas e objetos que nos cercam deixam de ser familiares e de nos proporcionar conforto. Nesses momentos de estranhamento com o que está à nossa volta, o foco muda e é hora de fazer a longa viagem para dentro de nós. Quando saímos (e quase sempre saímos), estamos mais conscientes de nosso limites, mais familiarizados com o que desejamos. Estamos inclusive mais preparados para desfrutar a alegria.”
“Não existe alegria sem tristeza”, reforço o pensamento de Wilson. Quem se permite viver a tristeza da sua forma mais honesta e verdadeira, também consegue experienciar a alegria em sua totalidade. Aceitar as tristezas, frustrações, dúvidas e insatisfações não faz de nós seres perdidos, muito pelo contrário, faz de nós seres mais conscientes. Mas, se o sentir com honestidade tudo aquilo que acontece em nossas vidas seja estar ‘perdido’, eu quero mais é me perder, porque só assim eu consigo encontrar novos caminhos inexplorados de mim mesma.
Já dizia a música de Chico César “Caminho se conhece andando, então vez em quando é bom se perder” né?
Nos últimos dias fui anfitriã da tristeza. Ela sempre faz questão de me (re)lembrar coisas básicas quando me visita: Julgue menos, diminua sua arrogância, olhe com mais carinho não só pra si, mas para as pessoas que estão ao seu redor (afinal, todos estão enfrentando seus próprios dilemas) e me receba em paz porque minha visita é (quase) sempre passageira.
Dessa vez, antes dela ir embora, perguntei: “Tristeza, por que será que tanta gente rejeita sua visita?” E ela, em sua imensa sabedoria respondeu: “Porque eu desarrumo certezas, mexo no que estava quieto, aponto o que foi escondido embaixo do tapete. Tiro as pessoas de um conforto que, no fundo, é ilusório. E isso dói. Mas de verdade, eu nem me importo se gostam ou não da minha visita, eu não estou aqui para ser amada, estou aqui para sacudir. Visito à todos para relembrá-los do que realmente importa. Não busco reconhecimento, eu só estou aqui para fazer o meu trabalho.”
Então a tristeza foi embora e nem olhou pra trás pra ver como me deixou. Ela tem autoconfiança suficiente pra saber que fez um bom trabalho enquanto esteve por aqui, e sabe que agora eu posso continuar meu caminhar recebendo muito bem as outras visitas que chegam, em breve, para ficar!
| Uma novidade quentinha e acolhedora…
A tristeza foi embora, mas enquanto esteve aqui me ajudou a organizar e tirar um projeto lindo do papel. Afinal, quando ela me visita traz organização e clareza para minhas ideias.
Em meio a tantas dúvidas e conversas internas, cheguei à conclusão que, de fato, eu queria voltar para o mundo corporativo (quem leu a yet.news da semana passada sabe do que eu tô falando), só que de um jeitinho diferente.
Foi assim que surgiu meu novo projeto: In Pause. Um aplicativo de saúde mental para empresas!
No último ano (2024) tivemos um recorde no Brasil - e isso não é nada bom - de afastamentos no trabalho por questões de saúde mental. Foram mais de 472 mil afastamentos, um aumento de 68% em relação ao ano anterior.
Pensando nisso, eu resolvi juntar toda a minha experiência do mundo corporativo e minha experiência no universo de estudos do corpo e da mente (yoga, neurociências, ciências sociais e psicologia positiva) para trazer de uma forma acessível ferramentas que possam ajudar colaboradores a lidarem melhor com os desafios e adversidades da vida, seja dentro ou fora do ambiente de trabalho.
Este é um projeto no qual você não vai me ouvir falar muito, porque ele é direcionado para um público diferente, para empresas, mas quis vir aqui contar em primeira mão essa novidade pra você que sempre me acompanha e reiterar a importância da gente acolher nossas dúvidas, pois a partir delas surgem coisas maravilhosas.
Caso você queira indicar esse projeto para o lugar onde você trabalha hoje, para um amigo que tenha uma empresa, ou quem sabe você tenha uma empresa e queira contratar a in pause, será um imenso prazer trabalhar em conjunto com essas empresas levando saúde mental de uma forma descomplicada para mais e mais pessoas.
Para conhecer mais sobre esse projeto acesse o site: www.inpause.com.br
| Aula nova
Na última quarta-feira subiu uma nova aula sutil de 35 minutos, perfeita para soltar o quadril e sair mais leve dessa prática. Bora praticar?
| Agenda da semana
14/04 segunda | Aula ao vivo com a prof. Luiza às 7h00
14/04 segunda | Encontro ao vivo do clube do filme: Central do Brasil às 19h30 + sorteio dos próximos clubinhos
15/04 terça | Aula ao vivo com a prof. Julia às 20h00
16/04 quarta | Sugestão da teacher: #27 Para acordar bem o corpo | 20 min sutil
17/04 quinta | Aula ao vivo com a prof. Bel às 7h00
18/04 sexta | Sugestão da teacher: Feriado, descanse, porque descansar também é yoga :)
Te vejo em nossas aulas e aqui nos comentários.
Até a próxima, beijuuu!
Lu :)